Tragédia na Região Serrana

Um relatório do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro (CREA/RJ), baseado em verificações feitas 2 dias depois da tempestade que atingiu a região serrana do Rio de Janeiro, em janeiro de 2011, concluiu que a tragédia poderia ter sido bem menor. Embora a tempestade seja um fenômeno natural, a destruição foi causada pela degradação ambiental e pelas construções irregulares em áreas de risco.

Para entender a naturalidade do fenômeno ocorrido, devemos conhecer que a formação do petróleo encontrado na camada pré-sal, hoje a maior esperança de desenvolvimento brasileiro, só foi possível por causa dos sedimentos provindos da Serra do Mar que soterraram as rochas carbonáticas onde hoje estão presas as acumulações de petróleo.

Estima-se que a 113 milhões de anos atrás, quanto os continentes sul-americano e africano estavam se distanciando, as serras de Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis possuíam 8 mil metros de altura. As serras foram sendo desgastadas pelo tempo através dos escorregamentos de material argiloso e os sedimentos foram carregados pelos rios que descem a serra, depositando-se no fundo do proto Oceano Atlântico.

 
O desmatamento nas cabeceiras e a contenção dos rios, o corte de matas ciliares e as construções irregulares estão entre as principais causas da tragédia. Às vezes temos uma área que não era de risco e, com o tempo, pelo desmatamento, ocupação irregular e pela ação cumulativa da própria natureza, esta área torna-se perigosa.


Quem não entende do assunto acha exagerada a importância que se dá ao desmatamento, mas a explicação é simples. Quando há árvores, o impacto da chuva no solo é amortecido. A água bate nas copas das árvores e escorre pelos galhos e pelo tronco. Se a chuva bate direto no chão, a terra vai se soltando mais rápido. Quando há floreta, há mais matéria orgânica no chão e a água infiltra melhor no solo. Sem esta cobertura de proteção do solo a terra se solta com mais facilidade.

 
Com mais de 800 mortos, centenas de desaparecidos, milhares de desabrigados e desalojados e uma área imensa para se recuperar, o saldo da tragédia na região serrana é enorme e situações como esta, expõem a falta de planejamento e descuido de autoridades e da população com um problema que se não pode ser evitado, pode pelo menos ser mitigado.