Arquitetura insustentável

Disse uma vez o renomado arquiteto Edson Musa:
 - O edifício comercial deve ser o transatlântico parado na calçada!
Será mesmo? Você concorda?


Luxo e conforto eles costumam ter. Beleza eu não vou discutir! Para se construir um edifício desses é necessário assumir um custo operacional altíssimo que não onera apenas os condôminos e proprietários, mas a sociedade como todo. Estes edifícios consomem muita energia porque não são planejados objetivando eficiência energética e equilíbrio ambiental. Eles são frutos da especulação imobiliária e ao invés de buscar integração com o meio ambiente externo eles agridem a paisagem para chamar a atenção.


Para sustentar o consumo de energia destes edifícios é necessário que a humanidade faça grandes intervenções na natureza, inundando imensas áreas de terras férteis, produzindo lixo atômico e materiais artificiais de difícil decomposição, que contrariam as leis da natureza, da biodiversidade e da vida. O pior é que acabamos por gostar destes edifícios em função da propaganda que é feita sobre estas obras que passam a ser copiadas também nas cidades do interior, competindo com os estilos e funcionalidades urbanas regionais.


A natureza, para se manter viva, necessita consumir e transformar energia e, para isso, busca sempre a forma mais econômica de crescimento e sustentação. É assim com as árvores por exemplo. Mas estas construções não possuem esta premissa. Quando um empreendimento no Brasil copia os modelos do capitalismo norte-americano, aplicando em sua fachada grandes partes envidraçadas, ele aumenta o seu custo de climatização e conforto térmico, produzindo também níveis descontrolados de luminosidade interna ou externa, causados pela reflexão dos raios solares.


Em Nova York e na Europa, os edifícios envidraçados se justificam em função do clima frio e da necessidade de reter calor. Lá estas grandes superfícies envidraçadas funcionam como estufas que mantém a temperatura interior aquecida. No Brasil, salvo em algumas regiões, este artifício não se justifica. O que dizer sobre o edifício sede do BNDES, situado no Rio de Janeiro? Um prédio preto, enorme e todo envidraçado, exposto a sol intenso e a temperaturas elevadas. Felizmente o Banco é rico e pode pagar a conta de luz com o dinheiro dos nossos impostos!


No século passado ainda se tentou desenvolver uma arquitetura genuinamente brasileira e adaptada ao clima de cada região, mas atualmente o que prevalece é mesmo a cópia do modelo norte-americano. Os estudos e aplicações do “brise soleil” - paletas verticais ou horizontais utilizadas nas fachadas dos edifícios protegendo as janelas - levaram a edificações extremamente funcionais como a do Edifício Portobrás, em Brasília, construído em 1974 pelo grande arquiteto brasileiro João Filgueiras Lima, o Lelé, onde ele desenvolve métodos naturais de ventilação dos ambientes internos da edificação, tornando o ambiente agradável e evitando uso excessivo de ar condicionado.


Na figura acima podemos perceber o Edifício Portobrás com sua fachada protegida por reentrâncias e “brise soleil” e por trás um edifício com a fachada envidraçada. O aspecto confuso da fachada do edifício posterior se deve aos aparelhos de ar condicionado e cortinas tipo “blackout”, colocadas para bloquear os raios do sol.